"'O sujeito do jogo não são os jogadores, mas o jogo que se produz através dos
jogadores.' A frase de Hans-Georg Gadamer, em Verdade e Método, introduz
a dinâmica pela qual se desenvolve o trabalho do arquiteto. Conceito, desenho
e obra são cartas de um mesmo jogo. E esse jogo, e não a consciência de
quem joga, constitui-se no primado da arquitetura. O arquiteto é absorvido nele.
Na verdade não é ele quem joga: é jogado, é dominado pelo jogo. A mesma
metáfora serve para ilustrar nossa relação com uma obra de arte. Nós não a
dominamos: é ela que nos absorve na lógica de seu jogo e move nosso espírito
e nosso corpo. Nesse sentido é que, em arquitetura, podemos falar de um jogo
de luzes, movimentos, cores e formas. Não como composições exteriores a
nós, mas como uma trama em que é tecido e envolvido o ser do habitante. Não
é nossa consciência que aplica sobre a obra de arte um sentido. Ao contrário é
a obra que nos utiliza, como o coringa de um baralho, para conformar um todo
com as cartas disponíveis. E o fruidor se reconhece na medida em que a obra
conhece o desvelamento desse sentido para o qual ele foi convocado. Quando
o habitante compreende uma obra, ele compreende também um novo sentido
do habitar. E quando o arquiteto compreende um conceito através da totalidade
do projeto, ele reconhece o apelo do mundo por uma nova forma do habitar, a
qual precisa ser desvelada por um trabalho que vise não à beleza, mas ao
sentido."
LINGUAGEM E ARQUITETURA: O PROBLEMA DO CONCEITO
BRANDÃO, Carlos Antônio Leite
21:38
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